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Sustentabilidade e atitude responsável

Há inúmeras definições para a palavrona “sustentabilidade”, hoje presente em todos os debates sobre empreendedorismo e gestão. Infelizmente, porém, pouca gente assimilou todos os seus complexos significados.

Vamos começar a encarar esse desafio? Vamos compreender por que isso é fundamental para a vida pessoal e para os negócios?

O moderno debate sobre o tema teve início na década de 1960, no ambiente da Contracultura, especialmente com os jovens que contestavam os valores morais ocidentais, o consumismo, o autoritarismo e o belicismo.

A proposta dos cabeludos hippies, por exemplo, era celebrar o pacifismo e restabelecer um modelo de vida simples, em sintonia com a natureza. Os projetos comunitários nessa linha não deram muito certo, mas deixaram uma semente de conscientização na sociedade.

Isso ocorreu, por exemplo, na área da Ecologia, que estuda as interações entre os organismos e o ambiente. É um ramo antigo da ciência, associado aos estudos de História Natural.

Na década de 1970, vários cientistas começaram a investigar essas relações no campo da produção, analisando o impacto das atividades humanas sobre os recursos naturais.

Com o tempo, desenvolveu-se a chamada Ecologia Humana, que trata das conexões entre o homem e a biosfera. A ideia tem sido verificar de que forma o homem pode viver de maneira equilibrada e satisfazer suas necessidades físicas, psicológicas, sociais e econômicas.

A ideia de sustentabilidade começou a ser construída em Estocolmo, há 40 anos, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunião que tratou de modo especial da degradação ambiental e da  poluição.

Como manter a coisa em pé

“Sustentar” é uma palavra que vem do latim sustentare. Obviamente, tem o sentido de oferecer base e apoio, conservar, cuidar e abastecer. O homem que trabalha ganha seu pão, seu sustento, o que lhe permite ficar em pé e manter-se em atividade.

Em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento apresentou uma definição clássica sobre a expressão:

– O desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

O que era uma demanda de jovens rebeldes virou pauta de governantes e gestores de todo o mundo. Hoje, a sustentabilidade já faz parte dos planos estratégicos das maiores companhias do mundo.

Mas, afinal, o que é ser sustentável? O conceito baseia-se hoje em quatro pilares.

  • economicamente viável;
  • ecologicamente correto;
  • socialmente justo;
  • culturalmente diverso.

Isso quer dizer que evoluímos muito desde de que os movimentos se resumiam à defesa das baleias ou das sequoias.

Falar de sustentabilidade, agora, é falar de meio ambiente e também de pessoas. É respeitar a diversidade cultural e também prover meios de sustento para toda a imensa comunidade humana.

Tenho a idade desse novo pensamento. Assim, intuitivamente, percorri esse caminho de aprendizado. Lutei pelo meu sustento, procurei estabelecer amarras e constituir o equilíbrio na relação com as pessoas e com o ambiente.

Confesso que me deparei muitas vezes com cegueira grupal, interesses egoístas e ausência de altruísmo. Muita gente gananciosa ainda não percebe que suas decisões deflagram processos que afetam a vida de centenas, milhares ou milhões de pessoas.

Temos três categorias de bens valiosos que, se bem utilizados e em harmonia, podem nos propiciar uma vida produtiva e equilibrada. São eles: tempo, energia e recursos.

Quando jovens, dispomos de tempo e energia de sobra, mas pouco sabemos como utilizá-los. Os recursos, muitas vezes, não se apresentam na forma de dinheiro, mas em oportunidades oferecidas pela natureza e pelas pessoas.

Ao agricultor, oferece-se a capacidade geradora da mãe terra, da qual provêm direta ou indiretamente todos os alimentos.

Ao médico oferece-se a demanda das pessoas que procuram manter ou recuperar a saúde. É por esse serviço que o profissional é remunerado.

O tempo passa, amadurecemos e passamos a compreender e identificar esses recursos. Muitas vezes, porém, nesta hora já assumimos responsabilidades e nos pegamos já sem tanto tempo e energia.

Pensar seriamente nas inúmeras variáveis dessa tríade pode, portanto, ajudar efetivamente a gerar sustentabilidade para nossos projetos.

Você que empreende e administra uma empresa deve manter-se especialmente atento ao pilar “recursos”. Não duvide: ainda somos desperdiçadores contumazes.

Nos negócios, tendemos a venerar somente o recurso financeiro. Assim, abusamos dos recursos naturais e humanos, sem valorizá-los de forma justa.

Quando prestamos serviços nos alienamos ainda mais. Pois o papel, a água e a energia elétrica nos são fornecidos por outras empresas. Estamos, assim, distantes das fontes de produção, como rios e florestas, onde o meio ambiente é mais duramente atacado.

Agimos dessa forma também porque muitas dessas riquezas nos foram doadas. Simplesmente, estão à disposição desde que o mundo é mundo.

Se o indivíduo não é consciente, educado e disciplinado, a doação não contempla valor, haja vista as grandes fortunas que se esfarelam nas mãos de herdeiros irresponsáveis.

Em geral, a luta é que valoriza a conquista. Em várias parte do mundo, temos exemplos claros desse procedimento. As comunidades que passaram anos sem água tratada e encanada tendem a valorizar cada gota do precioso líquido.

O mesmo podemos dizer dos empreendedores que conseguiram, com muito suor, os recursos para manterem em pé suas organizações. Estes, como eu, valorizam cada centavo e cuidam de obter retorno de cada investimento.

Na verdade, sustentar pode ser a lição mais difícil a ser ensinada. Nosso planeta é muitíssimo generoso. Ganhamos muito em nossas vidas. As permissões nos são dadas aos montes.  Porém, quanto mais recebemos, menos somos gratos.

Ainda estamos atrasados na compreensão dos reais valores de nossos ganhos. A humanidade teve que evoluir muito para que uma torneira enchesse seu copo com água clorada e cristalina. Mesmo assim, ainda há quem prefira lavar a calçada em vez de varrê-la.

Há outro fator que colabora para essa ausência de reconhecimento. Quando gostamos e amamos, frequentemente cometemos o erro de doar sem valorizar.

Os pais, os empregadores e até os raros bons governantes costumam se decepcionar com aqueles que um dia usufruíram de suas doações.

São pessoas que não foram capazes de desenvolver os sentimentos de gratidão e respeito. Noutras vezes, são indivíduos que simplesmente não aprenderam o valor do tempo, da energia e dos recursos.

Nos próximos anos, você que empreende e administra precisará ser sustentável. Caso resista, perderá competitividade e credibilidade. Seu negócio estará sempre em risco.

Um dia, ter uma atitude responsável era uma questão de estilo. Hoje, é uma questão de sobrevivência.

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