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Até onde somos capazes de assumir responsabilidades de coisas que não tivemos culpa?

Quem decide se você tem culpa ou não em sua vida, além de você?

Tirando os atos em que envolvem terceiros e são julgados pela justiça, todos os outros são decididos única e exclusivamente por nós e quem arbitra sobre este juízo é a nossa consciência.

Como sabemos, somos proprietários e únicos interlocutores da nossa consciência. Conversamos e a consultamos quando e como queremos, e por mais que ela nos cobre e nos emparede, a última palavra sempre será a sua escolha. Procrastinar a consciência é uma liberdade de arbítrio interna, o poder absoluto é seu e os riscos, consequências e responsabilidades, também, e é aí que mora boa parte dos problemas.

Assumir responsabilidades de coisas que não foram nossa culpa é algo muito nobre. Até louvável, por que não dizer? Dificilmente você verá pessoas que não assumem as próprias responsabilidades, assumindo responsabilidades alheias. Em sua maioria, são pessoas altruístas e desprovidas de interesses pessoais, fato raro em nossa sociedade. São pessoas muito especiais e muitas vezes, pouco percebidas e reconhecidas em meio à multidão.

Vejo pessoas sofrendo por culpas, mas poucas sofrendo por responsabilidades de culpas não assumidas. Quem as assume tem uma força pouco compreensível, percebem o seu redor de maneira diferenciada, prestam atenção nas pessoas, suas dores, sentimentos, angústias e necessidades.

No desenvolvimento deste pensamento, quis conversar com um amigo psicanalista, o profissional Sergio P. Rossoni que agregou alguns pontos com o seu conhecimento:

Um ponto interessante é:

A culpa introjetada. Carregamos muitas. Dos pais, amigos e sociedade – isto se enquadra na famosa teoria de Freud: Ideal do Ego / Ego Ideal.

Ideal do Ego = eu tento corresponder ao desejo das pessoas. O que elas querem que eu seja. O que eu tenho que fazer para ser legal e aceito pela galera?

Ego ideal = minhas idealizações. Eu só vou ser bacana quando eu for igual àquele, bam bam bam. Observamos isso na moda, nas notícias, nas novelas, etc.

Resultados: Culpas diversas. Não sou o que meus pais gostariam. Não fui aceito pela galera. Não fui médico nem advogado como meu avô havia me orientado. Não fui…

Culpa introjetada coletiva = o famoso “eu tenho que”.

Na culpa introjetada, eu tenho que “fazer” todo o tempo. Daí a diferença entre “ser” = aquele que é; e “fazer” = criar compensações internas para sustentar a autoestima, assim complementa Sergio P Rossoni.

Diariamente somos expostos a responsabilidades que não nos cabem, pelo simples motivo de não termos culpa sobre aquilo. No mundo corporativo, quantas vezes já não percebeu atitudes pouco colaborativas em função de não ser da responsabilidade do outro, pelo motivo de não ser pago para fazer tal coisa.

Quantas vezes nós mesmos não agimos frente a responsabilidades que não nos cabem?

Quem define se vamos ou não colaborar, são os nossos valores, nossa interpretação dos fatos, nossa consciência perante o sim ou o não da atitude. Olhando para as pessoas que assumem responsabilidades sem terem culpa, vemos atitudes que muito possivelmente não teríamos. E por que não teríamos? Pelo motivo de não sermos os culpados por aquilo, por não sermos culpados e pronto. Viramos as costas e seguimos em frente como se nada daquilo fizesse parte de nossas vidas. Dores alheias costumam não afetar o próximo.

Todo este pensamento começou a me provocar a partir do momento que conheci as “30 mentes” do projeto de 30 anos da agência. Percebi muito facilmente que aquelas pessoas estavam se responsabilizando por questões em que não eram, nem de longe, culpadas. Daqueles dias em diante, confesso que a minha vida mudou, passei a olhar para o próximo de maneira mais calma, mais empática, passei a dar mais valor a tudo que estava a minha volta, minha família, minha esposa, meu filho, minha mãe, meus amigos, meus colaboradores e assim por diante.

Nunca fui de reclamar de nada, e agora menos ainda, não digo que tenhamos que nos responsabilizar com as bobagens que as pessoas fazem a nossa volta, principalmente as decisões nitidamente equivocadas e irrelevantes, como amigos que trocam de carro e não conseguem pagá-lo ou casamentos destruídos por traição consciente e tantas outras atitudes impensadas. Agir é, sem dúvida, assumir riscos e a grande maioria dos atos falhos, já desenham seus finais, obviedades da vida.

Olhar a nossa volta e avaliar responsabilidades que possamos assumir como reais ajudas às pessoas e situações onde não houveram culpas diretas, é um exercício bastante edificante a ser desenvolvido.

Pense nisto, assuma alguma responsabilidade que não tem a menor culpa e veja quanto de amor e alegria isto pode trazer à sua vida.

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