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FOGO! Isto mesmo, FOGO!

Fogo! Esta palavra sempre me acompanhou. Fogo como energia. Fogo como inquietude. Na infância, eu gostava de inventar, de criar, de inovar. E, muitas vezes, ouvia de um tio ou tia a frase admirada: “este menino é fogo”.

Havia uma série de outros termos utilizados na época para designar os sapecas. “Este aí faz muita arte; é um arteiro”, sentenciava uma vizinha.

Surpreendentemente, nunca me ofendi com essas denominações. Lá no fundo, via nessas expressões o reconhecimento de um talento criativo. O fogo é ótimo agente de destruição do velho. Ele abre o caminho para o novo. Ele limpa a tela para que a experiência da arte se faça.

Mas será que ainda existem garotos incendiários, loucos por transformar o mundo? Recentemente, encontrei-me com um grupo de universitários. Curioso, logo disparei a pergunta:

– Quem quer ser empreendedor?

Surpreso, vi que apenas três dos cinquenta jovens ergueram a mão. Considerei o resultado da consulta preocupante. Afinal, é o espírito empreendedor dos jovens que empurra para frente uma família, uma comunidade, uma nação. Pensei: “será que o Brasil vai perder esta oportunidade de se alinhar entre as grandes potências econômicas?”.

Desde criança, gostei de gerir a mudança, de botar em prática projetos de inovação. Nada à minha frente deveria permanecer imóvel. Buscava a metamorfose constante e o aprimoramento. Foi assim que, ainda menino, criei um negócio de reforma e venda de tênis importados. Eu os comprava, levava a um sapateiro e depois os revendia, especialmente para os colegas de escola.

Com isso, fiz um dinheirinho. E, de quebra, ajudei muita gente a concretizar o sonho de ter um tênis All-Star importado. Nessa época, percebi que gostava de empreender, mas também de gerir, produzindo movimento.

O tempo passou e mantive essa vocação. Lembro-me, por exemplo, de uma incrível jornada de vendas, quando saí com um amigo vendendo calcinhas pelo Interior. Nessa aventura, havia entusiasmo, vontade e disposição.

Há muitas desculpas para quem não quer empreender. Pode ser a falta de experiência, a escassez de recursos ou a resistência do mercado. De fato, essas dificuldades podem ser encontradas pelo caminho. Muitas vezes, minhas invenções no mundo dos negócios não tiveram finais felizes. No entanto, isso nunca me tirou o prazer de tentar, de bater pedra contra pedra para buscar a faísca.

Logicamente, nem todo mundo precisa se tornar um Henry Ford ou um Steve Jobs, mas o mundo atual exige que cada desenvolva algum conhecimento da arte de empreender. Mesmo quem não tem interesse em constituir empresa, precisa preparar-se para compor e tocar uma Eu, eu mesmo, uma Eu Ltda. ou uma Eu S.A.

Em tempos de mudanças radicais e constantes, não há sucesso em qualquer carreira sem ímpeto empreendedor e expertise de gestão. Isso serve para quem vende pipoca, para quem comunica e para quem gerencia no mercado planetário de commodities.

Além da matéria, somos energia. E ela precisa produzir fogo. Nesse caso, empreender é fazê-lo surgir. Mantê-lo vivo é uma tarefa de gestão. Quem desenvolve qualquer atividade econômica precisa, portanto, acender a fogueira e, depois, alimentá-la.

Conversando com jovens que queriam conhecer o segredo de meu êxito como empreendedor no segmento publicitário, formulei a seguinte resposta:

– Na verdade, não há segredo. Sinta-se dono de uma fogueira e perceba que você depende dela para se aquecer, para iluminar o ambiente, para esterilizar instrumentos e para cozinhar sua comida. Esta fogueira não pode se apagar. E depende única e exclusivamente de você. Para alcançar o sucesso, você precisa protegê-la do vento e da chuva. Além disso, precisará lhe dar sustento, fornecendo-lhe grande quantidade de lenha seca. Foi assim que a humanidade ganhou esperança, na época escura das cavernas. É assim que a gente faz uma empresa dar certo.

Depois disso, indaguei-lhes:

– É assim que se começa qualquer negócio. É assim que se começa a construção de qualquer grande sonho. Vocês já acenderam a fogueira? Se ela já existe, o que estão fazendo para que o fogo se eleve bem alto?

De fato, o sucesso depende de acúmulo de conhecimento, de acesso farto a informações confiáveis e de habilidades técnicas. No entanto, nada disso faz sentido quando falta “fogo”, quando falta ímpeto transformador.

Muita gente me pergunta onde é possível encontrar combustível para manter acesa a chama realizadora. E eu costumo dizer que ele pode ser produzido no coração, por meio de um sentimento básico, resumido em quatro letras: AMOR. Quando ele existe, fortalece-se da alegria e também do revés. O amor é que mantém o fogo aceso.

Fogo! Que é paixão quente, que move montanhas sem se importar com o tamanho e o tempo da conquista.

Fogo! Que ilumina o caminho e quanto mais incandescente, mais longe lança a luz.

Fogo! Que aquece e faz circular o sangue. Que emociona pela força de seu calor. Que faz brilhar os olhos.

Fogo! Que, para sobreviver, necessita de oxigênio e lenha. E também de olhar atento, de cuidado, de proteção.

Fogo! Que mata tudo quando se extingue. Que é difícil de ser revivido. Quando se apaga o fogo de um empreendedor-gestor, a sombra e o frio avançam implacáveis.

Em palestras e conferências, tenho dito aos jovens que eles precisam ser, urgentemente, empreendedores de suas próprias vidas.

Em alguns casos, o jovem sofre porque não sabe manter aceso o fogo. Noutros, há veteranos cuja chama parece declinar, ameaçada pelo comodismo e pela falta do principal combustível: o amor.

Este é o grande desafio dos dias complexos de hoje. É preciso aprender a gerir o uso deste fogo. E é necessário agir com responsabilidade e critério. Afinal, o fogo também queima e destrói. Quer empreender e gerir? Aprenda a brincar com fogo.

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