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Tudo pode mudar quando abrimos nossos canais sensoriais

Vez ou outra é necessário pararmos alguns minutos para darmos conta de que talvez há alguns dias, semanas, ou mesmo meses, temos vivido automaticamente. Temos olhado para tudo, mas não temos enxergado nada; temos ouvido muitas coisas, mas não temos escutado nada; temos respirado o tempo todo, mas não temos sentido cheiro algum; temos falado sem parar, mas não temos dito palavras de afeto e amor; temos tocado em tudo, mas não temos sentido nada; temos nos alimentado, mas não temos saboreado o gosto dos alimentos.

Na verdade, o dia-a-dia de nossas vidas cria várias barreiras em nossos canais sensoriais, fazendo com que nos tornemos verdadeiros andróides, meros passageiros, não condutores de nossas próprias vidas. Precisamos parar e prestar mais atenção às nossas atitudes. É necessário parar alguns minutos para relaxar, respirar fundo, ouvir uma música suave e sentir não só as emoções do momento, mas outras já vividas. É muito grande o prazer de reviver emoções, de evocar na memória aquelas que foram tão importantes em nossa trajetória.

No nosso corre-corre deixamos de viver sensações importantes. Porque vivemos como loucos, alucinados, correndo de lá pra cá, sem parar um só minuto para conviver com o silêncio. Porque automatizamos nossas ações, passamos dias, semanas, meses, praticando os mesmos atos —levantar, escovar os dentes, tomar um café em pé, sair para trabalhar, percorrer uma grande distância de carro sem reparar nas pessoas, nas avenidas, se há ou não uma árvore florida, almoçar rapidamente, voltar para o trabalho, regressar para casa, ver umas bobagens na televisão, dormir, recomeçar a rotina —, sem um momento sequer para nós mesmos, sem um bate-papo com um amigo, sem uma brincadeira com nossos filhos, sem um telefonema para nossos familiares. Porque nos transformamos em autômatos, paramos de prestar atenção às pequenas coisas que estão ao nosso redor, de ter sensações que são essenciais para o nosso bem-estar.

É necessário conversar prestando atenção nos olhos das pessoas, no sorriso amoroso de nossos familiares, no aperto de mão de nossos amigos. Precisamos dizer para nossos pais o quanto os amamos —ainda que seja por telefone —, beijar e apertar mais nossos filhos em abraços carinhosos (eles crescem tão rápido!), tratar as pessoas no trabalho com mais carinho e respeito (quem não gosta de começar o dia com um cumprimento? quem não gosta de um elogio pelo trabalho bem-feito?) e —o mais importante tudo — gostar mais de nós mesmos, dar mais atenção ao que pensamos, ao que sentimos, ao que intuímos. Vamos começar a cuidar de nós agora mesmo. Não podemos esperar mais, já perdemos muito tempo.

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