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O perigo de estar ligado no automático

Entre as inúmeras fases por que uma empresa passa durante seu crescimento e amadurecimento, existe uma que é de extremo perigo: a fase em que os processos começam a ocorrer de maneira automática, quando as pessoas começam a fazer as coisas de maneira pouco percebida, numa espécie de autoconfiança excessiva. Certa vez acompanhei um processo que foi bastante traumático para mim, mas que mostra até onde esse excesso de confiança pode chegar e o quão perigoso pode ser em nossas vidas dependendo da atividade que exercemos. Acompanhei o início de carreira de um garoto em uma gráfica onde existia uma guilhotina de corte de papéis. De tanto acompanhar o trabalho, o rapaz se sentiu apto a operar a máquina (naquele tempo não existia dispositivo de interromper o processo). No início, os cuidados eram enormes, a atenção nem se fala, mas, com o passar do tempo, o processo passou a ser automático e a autoconfiança superou o medo, algo como uma prática superior a qualquer descuido, um sentimento de supercapacitação, até o dia em que o rapaz se descuidou e perdeu dois dedos. Sim, o que eu senti no dia foi o mesmo que você sentiu ao ler este relato: um frio na barriga e um sentimento de que nunca podemos relaxar diante de um perigo eminente. Assim como aconteceu com esse rapaz, acontece todos os dias com motoboys, pilotos de carro, pilotos de moto… com todas as pessoas que trabalham e expõem suas capacidades à prova. A verdade é que estamos correndo riscos e nos desafiando o tempo inteiro, e esperar de nós 100% de atenção é algo praticamente inviável. Bem, a partir do entendimento da impossibilidade da atenção 100% correta por todos os nossos dias de vida, cabe a nós termos a percepção mínima de quando estamos entrando no modo automático, o que, confesso a vocês, não é nada fácil, pois, se assim fosse, teria me antecipado e evitado muitos erros em minha vida. Somos humanos e, assim sendo, cometemos falhas em algum momento. Graças a Deus, não trabalhamos ligados a atividades que lesem nossas vidas, ou a vida do próximo. Se toda precaução é pouca para não começarmos a desenvolver nossas atividades automaticamente, e se mesmo com tanta precaução vez ou outra incorreremos em algum erro, não podemos ficar chorando sobre o leite derramado. De nada adiantaria. Nesses momentos só nos cabe parar, refletir e aprender com o erro até o dia em que incorremos em algum outro. E assim vamos continuando a fazer a maravilhosa lição de casa que a vida tem nos reservado.

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